Programa Alimentos Seguros: segurança alimentar para seu negócio
Por meio do Programa Alimentos Seguros (PAS), o Senac SC trabalha para garantir a segurança alimentar nos estabelecimentos de gastronomia. Com capacitações e...
A Rede de Bibliotecas do Senac SC lançou, no dia 27 de abril, o III Concurso Literário aberto para alunos e colaboradores da instituição. A edição deste ano homenageia a poetisa Maura Soares, membro emérito do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e do Grupo de Poetas Livres, personagem bastante importante para a poesia catarinense. Se você tem vontade de se inscrever, mas não sabe muito bem por onde começar a sua poesia, nós te ajudamos. Conheça e inspire-se com a história do Leonardo Gazzoni, ganhador do II Concurso Literário.
Leonardo Gazzoni, 18 anos, nasceu na cidade de Irani-SC. Aos seus 14 anos, lançou seu primeiro livro de poesias, intitulado “O mundo que você inventa”, fruto também de um Concurso Estadual promovido pelo Instituto Caracol, de Navegantes. Em 2014 concluiu o curso de Auxiliar de Recursos Humanos, no Senac em Concórdia.
“Na verdade, meu primeiro contato com o mundo da leitura e das histórias não foi com livros, mas ouvindo as histórias de meu avô sobre seu tempo de menino, em que as famílias trabalhavam sob o sol do meio-dia na lavoura e no entardecer, quando a noite se aproximava, reuniam-se todos na extensa varanda da velha casa de madeira, a contarem as bem-aventuranças do dia. Tudo aquilo me encantava. Depois veio o primeiro livro: não lembro qual era, nem seu nome nem o autor, mas que era um livro azul, parecia ter sido feito pelas mãos de uma costureira habilidosa. Falava de meninos que voavam sobre os campos e contavam histórias nas nuvens. Sempre que lembro, sinto o cheiro daquelas páginas espessas e amareladas e tenho a impressão de ter sido um daqueles meninos-personagens, de ter voado, sentido o céu nas mãos. Sinto que foi exatamente aí que a leitura me disse que eu e ela teríamos uma relação maternal, que seríamos cúmplices. Acho que mágica começou por aí. ”
“Tenho grande admiração pela literatura latino-americana. Assim como um tempero exótico na gastronomia, acho que os latinos possuem algo diferente, uma pitada a mais na relação com a linguagem e a forma, uma sensibilidade na construção da palavra. Na questão do gênero, o realismo fantástico representa para mim um alter-ego. É, sem dúvida, o gênero que mais me incita. “Cem anos de solidão”, do Gabriel García Márquez, transformou a minha relação com a Literatura. Lembro que chegava a sonhar com as vielas de Macondo. Era fantástico, como o próprio gênero sugere. Também criei uma relação especial com obras de José Saramago, Júlio Cortázar, Kafka, Nabokov, Vargas Llosa e, à nossa aldeia, Moacyr Scliar, Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu e, em frente a todos, Carlos Drummond de Andrade. Este último, autor meticuloso do poema “América”, que considero a obra mais próxima da minha noção de perfeição, a melhor composição poética da literatura brasileira. Acho que tudo o que me incomoda me encanta, e esses autores, cada qual a seu modo, causam esse desconforto que para mim é excitante. ”
“Gosto de escrever sobre as coisas que as pessoas esquecem, sobre o íntimo, sobre a verdade mais intrínseca do homem. Gosto de escrever sobre a solidão. Acho este tema o mais verdadeiro. Não sei o porquê mas a maioria das personagens que já criei são solitários, pessoas que procuram um motivo, ou algo, ou alguém para compartilhar a própria solidão. Gosto de escrever sobre coisas que não existem porque aí me sinto seguro, livre de formalismos e qualquer outra cientificidade. O não-real é a minha matéria e o incomum é algo de que me sinto bastante próximo. Intuo que escrevo de uma forma totalmente distante e a única aproximação que há em minha escrita é quando o leitor a absorve e consegue compreender meu motivo, o suor por trás de cada palavra. Aí surge a conexão necessária para que uma obra possa se tornar ou não determinante, tanto para o leitor quanto para quem escreve. ”
“A leitura, antes de tudo, me transmite a sensação de liberdade. Liberdade porque no instante em que se lê se abre também um espaço totalmente avulso e externo à realidade dita compacta, cultural – aquela da qual gostaríamos e precisamos, por vezes, fugir –. É possível vestir outra roupa e adentrar em um lugar totalmente individual e mutável. Liberdade maior que essa eu só encontro quando escrevo. Também é possível encontrar e conhecer a si mesmo dentro de uma leitura, e quando isso acontece sentimos uma sensação inefável de prazer e compreensão, uma satisfação ou alegria explícita por observar na forma de contar ou de descrever, de dizer a palavra, algo que nos pareça familiar ou que faça com que possamos reconhecer a nós mesmos, ou que nos mude. A leitura deve provocar, deve nos fazer sentir amor ou ódio, ansiedade ou medo, coragem ou euforia; só assim pode ser literatura de verdade. A leitura que não nos muda, aquela que terminamos da mesma forma com que de início não é literatura, não vale e não merece nosso tempo. ”
“Eu sempre acreditei que quando leio ou escrevo vem um anjo travesso e tira meus sapatos, me faz caminhar em um gramado extenso e me mostra um pouquinho de como deve ser o paraíso dos homens que ainda sonham. ”
Leia o conto “A culpa”, de Leonardo, vencedor do II Concurso Literário Estadual Salim Miguel realizado pelo Senac SC, abaixo:
Era sábado, e Dona Esperança estava triste.
Levantou-se, estendeu a toalha de xadrez para o café. Pôs a xícara na mesa, a colherinha de azulanto, o açúcar, o desnatado, a geleia de framboesa – sua predileta – e sentou-se timidamente. Faltou o pão.
O relógio balbuciava qualquer hora perto das sete, e Dona Esperança resolve ir até a padaria comprar o seu de água e sal. A porta dava de cara com uma rua apressada, amontoada de homens e seus ternos escuros e maletas secretas em suas manhãs de sábado. Carros buzinavam, vorazes, como se fugissem de novo dilúvio. Saiu, atravessou de calçada a calçada. As pessoas andavam preocupadas, todas com suas cabeças baixas, sem vida, sem bom dia, sem coisa alguma, e Dona Esperança talvez soubesse o que lhes faltava. Os postes fingiam dormir até mais tarde, e o céu cobria-se cinzento como se sentisse vontade de chorar.
Era verão. E em cada esquina via-se desesperada uma lojinha pequena de portas atarantadas dizendo em suas vitrines vender felicidade.
– Quem me dera comprar um pacote de alegria, dizia Dona Esperança.
Já os passos tranquilos na porta da padaria, tirava sua manta cor de crepúsculo e previa um cheirinho de pão fresco que vinha lá de dentro. Cheiro de criança, talvez pensasse. Achegava-se, escapando do tumulto sôfrego do cotidiano. Pegou seu pão. Dois ou três pãezinhos apenas, que talvez não alimentassem o mundo inteiro. Mas Dona Esperança quase não pensava nessas coisas. Ia saindo, a pequena sacola balançando entre os dedos fracos, até que um menino, um menino da pele faceira que saía do estabelecimento com sua mãe segurando-lhe a mão e, na outra, um lustroso balão vermelho que flutuava sutil, olhou bem em seus olhos e lhe disse:
– Bom dia!
Tão sorridente, tão vivo, tão feliz! Bom dia, ele disse bom dia. Bom dia! Dona Esperança não lembrava que as pessoas certa vez disseram bom dia umas às outras. Bom dia, apenas isso. Bom, o dia. Puro, simples, sincero. De súbito, os olhos da velha senhora esfuziaram-se em algumas lágrimas livres, e brilharam como qualquer coisa que brilha, talvez como um lago de verdade, como um lago em uma praça onde as pessoas alimentam os pombos de antes.
– Bom dia, ela respondeu. E seu dia realmente ficou bom.
A alegria havia enchido-lhe o espírito, e voltou para casa feliz, cantando com os pássaros (imaginários), dançando no meio fio, como se amanhã a felicidade fosse sumir do mundo. Um bom dia, ela recebeu um bom dia. Jurou que não contaria a ninguém, porque essas coisas a gente guarda em segredo. Mas lhe deram um bom dia como uma pedra verde sobre um embrulho jovem. Estava feliz. Feliz e só.
Era domingo, e Dona Esperança estava novamente triste.
Como no dia anterior, levantou-se, estendeu a toalha quadriculada, pôs a xícara na mesa, a colherinha, o açúcar, o desnatado, a geleia –tem de ser de framboesa– e o pão. Dessa vez havia pão. Não havia felicidade.
Depois recolheu a mesa, lavou a louça, e passou seu dia vendo da janela o domingo lá fora. Sozinho, vazio; até se parecia com Dona Esperança. Consumiu o dia todo assim. No fim da tarde, lembrou que eram os anjos que coloriam o céu de alaranjado e o mundo inteiro com suas bordas cor-de-ouro. Sentou-se na poltrona velha do falecido a pensar sozinha nas coisas que passaram, e pensou tanto e tantas foram as coisas que passaram que sentiu sono. Pensou no sábado e na padaria e no menino e seu balão vermelho. Que pena que agora havia pão. A padaria, porém, estaria fechada e o menino não estaria mais lá, a dizer-lhe como quem não deseja nada em troca um risonho bom dia. Um bom dia sem pecado.
Era domingo e Dona Esperança estava triste. E seu café já esfriara na xícara enquanto esperava no braço da poltrona. Deu um gole para não desperdiçar o açúcar e olhou novamente para a janela. Lá fora, não se sabe se delírio ou o quê, viu se aproximando um menino feliz e seu balão vermelho.
Então, escorou a cabeça em sua almofada de costura e dormiu. Dormiu um sono perfeito. Era domingo e Dona Esperança estava triste. Havia pão, mas não havia padaria, nem menino, nem balão vermelho.
Era domingo e Dona Esperança estava triste. A culpa é do domingo.
Agora é a sua vez. Inscreva-se para o III Concurso Literário de Poesias Maura Soares: http://senac.sc/oR5yvJ
Por meio do Programa Alimentos Seguros (PAS), o Senac SC trabalha para garantir a segurança alimentar nos estabelecimentos de gastronomia. Com capacitações e...
O ensino médio é uma etapa fundamental na formação acadêmica e profissional dos jovens. Nos últimos anos, o modelo de ensino médio integrado...
O ensino híbrido é uma modalidade que veio para ficar. Por ser uma alternativa que alia a flexibilidade do ensino a distância e...
Novo Post!